Após diversos trabalhos para a televisão e a realização de curtas metragens, Gabriela Amaral Almeida estréia na direção em um longa seguro e cheio de personalidade, esse é O Animal Cordial.
Inácio (Murilo Benício) é dono de um restaurante que, pelos indícios do roteiro, já teve dias melhores e vive às custas da popularidade de outrora. Um chefe que acredita no conceito de que o "olho do dono que engorda o gado", e assim, faz questão de controlar o local (e os funcionários) com rédea curta, ou seja, um patrão daqueles... pau no cu. O clima nesse restaurante já é pesado desde o começo do filme. E é nesse ambiente, e apenas neste ambiente, que a loucura de Animal Cordial vai se desenrolar.
Completando o cenário da tragédia temos uma funcionária puxa-saco (sempre tem né?), os poucos clientes da noite (um casal pequeno burguês e um solitário misterioso), um cozinheiro homossexual e empoderado (meu personagem favorito do longa, aliás), e o elemento catalisador de toda essa tensão: os dois ladrões que irão invadir o espaço.
Animal Cordial segue uma linha perigosa dos longas metragens ambientados em apenas um cenário. Esse tipo de produção precisa de um roteiro impecável para que se sustente e mantenha a atenção do espectador, afinal, seus recursos são limitados. E nisso o filme de Gabriela segura a onda, e mais, não recorre nem mesmo aos flashbacks para "escapar" da atmosfera do enclausuro, nada disso, Animal Cordial é um filme sem alívio.
Animal Cordial usa uma premissa extremamente simples para se revelar uma metáfora sobre a luta de classes, expõe os preconceitos do brasileiro médio, e sem dúvida é ótima surpresa e um dos melhores filmes de terror nacional dos últimos anos!