segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Trauma (2017) | Dir: Lucio A. Rojas - Crítica


Por Mauricio Castro

Sob comando do General Augusto Pinochet, a ditadura militar Chilena foi uma das mais cruéis da história. De 1973 até 1990, o regime foi responsável pela morte de cerca de três mil pessoas e pela tortura de mais de 40 mil.  Esta chaga, ainda aberta na America Latina, é a base de Trauma, mais recente filme de Lucio A. Rojas.

Quatro garotas decidem fazer uma viagem até uma zona rural do Chile, e neste local, são violentadas e torturadas por dois homens cruéis. A premissa parece render apenas mais um slasher com toques de rape and revenge, né não? Pois é. No entanto, Rojas enxerta no enredo toda a barbárie do passado recente do país. O sadismo dos militares de Pinochet, leia-se fascistas de carteirinha, é uma herança que estes homens carregam nas veias, e sabem muito bem fazer uso do mal para destruir a alma de suas vítimas, e por consequência, a do espectador. 

Trauma tem circulado pelos festivais de cinema fantástico, e vem criando fama entre o público underground. Até mesmo os iniciados têm citado o filme como "o mais pesado desde..." ou "mais perturbador que A Serbian Film". Muita calma nessa hora. Sim, Trauma pega pesado e se esforça para gerar desconforto nos "corajosos" que se prestam a assisti-lo, porém, é muito subjetivo que o conteúdo gráfico do filme vá de fato lhe impactar.  Afinal, se você é velho(a) de guerra nessa longa estrada do horror, já deve ter visto coisas de sarapantar. Mas como eu disse, isso é subjetivo. 

O grande mérito de Trauma é jogar uma luz na crueldade dos regimes totalitários. É nos lembrar que a história recente tem vilões piores que o cinema de horror pode imaginar. É um alerta aos que pedem a volta da ditadura, e aos que confundem vingança com justiça social, acima de tudo, como escreveu Hannah Arendt, é sobre a banalidade do mal.