terça-feira, 29 de maio de 2018

Demônios e Maravilhas, 1987 | Dir: José Mojica Marins - Crítica


Por Mauricio Castro

Documentário, Cinebiografia, Docudrama, Mockumentary... Difícil usar um termo que defina perfeitamente a narrativa usada por José Mojica Marins em Demônios e Maravilhas, produção de 1987, que remonta fatos dramáticos da vida pessoal do cineasta e sua luta para conseguir fazer cinema de gênero em um país sob o flagelo da ditadura militar. Sem diálogos, e narrado em off pelo próprio diretor, o filme de 50 minutos expõe ainda os famosos delírios fílmicos comuns na obra de Mojica. Principalmente na sequência de sua (quase) morte por alguns minutos, na qual ele vai ao além. Focando em sua carreira na década de 1970, e chegando até Delírios de um Anormal, de 1978, Demônios e Maravilhas é antes de tudo, um registro histórico, documental, quando um cineasta lança um olhar sobre sua própria obra e sobre si mesmo.

CURIOSIDADE: A trilha sonora de Demônios e Maravilhas é completamente surrupiada por Mojica na maior cara de pau! Temas clássicos do cinema como Carruagens de Fogo, 007, Missão Impossível, Shaft, do Isaac Hayes, Koyaanisqatsi  de Philip Glass, são usadas sem o menor pudor, e claro, sem autorização prévia. Caramba, toca até Pink Floyd no filme (Atom Heart Mother e Time). Grande Mojica! 

Ódio, 1977 | Dir: Carlo Mossy - Crítica



Por Mauricio Castro

Muito tem se falado sobre o remake de Death Wish. Eu confesso que minha curiosidade não foi suficiente para conferir o novo trabalho de Eli Roth, porém, é só olhar em retrospecto as obras do rapaz que minha vontade fica estagnada no zero. Desejo de Matar, o original de 1974, faz parte de uma gama de filmes que, nos anos 1970, explorou a violência e vingança com boas doses de crítica social. Ao seu lado estão clássicos como A Outra Face da Violência, I Spit on Your Grave,  Aniversário Macabro e Amargo Pesadelo. Isso sendo raso, é claro, a lista de exploitation de mesma temática é interminável. Porém, um filme do cinema brasileiro da mesma época dialoga diretamente com seus pares americanos. O longa em questão é o barra pesada Ódio. Roberto é um jovem advogado, defensor árduo dos direitos humanos, que sofre uma tragédia pessoal ao visitar a família na casa de campo de seu pai. Já ao chegar descobre que seus entes queridos foram feitos reféns dos próprios funcionários do local. A sequência de humilhações, estupro (tendo como vítimas sua mãe, violada pelo cano de uma pistola, e sua irmã, ainda criança) e agressões são de revirar o estomago. Todos são executados, menos roberto, que apesar de baleado, sobrevive. A partir deste ponto temos nossa jornada em busca de vingança. Roberto irá atrás de um por um dos quatro assaltantes e, com paciência, dará o troco. Ódio é uma produção que se tivesse sido realizada na América certamente seria um clássico do exploitation, e teria entre seus fã Tarantino e Eli Roth, certamente.

CURIOSIDADE: O ator Celso Faria (que interpreta Nestor, o líder do grupo) viveu na Itália entre os anos de 1962 e 1972, e lá atuou em Spaghetti Westerns sob o pseudônimo de Tony Andrews. Trabalhou em Django Não Espera... Mata!, de 1967, e ao lado de Klaus Kinski em Sono Sartana, il Vostro Becchino, faroeste de Giuliano Carnimeo (isso mesmo, o diretor do nosso amado Rato Humano). Na sequência final de Ódio, Nestor e Roberto comentam sobre os antigos Westerns, chegando a citar o clássico Por Um Punhado de Dólares. Certamente uma referência aos antigos filmes de Celso Faria.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Downrange, 2017 | Dir: Ryuhei Kitamura - Crítica


Por Mauricio Castro

O novo trabalho do japonês Ryuhei Kitamura (de Midnight Train e Azumi) tem uma premissa interessante, e que devido a sua simplicidade, cai como uma luva na produção de orçamento limitado. Durante uma viagem, a qual em momento algum do filme é citado o motivo para que ela aconteça, um grupo de jovens (calma, não é mais um slasher) precisa parar na estrada devido a um pneu furado. Ao ficarem dando sopa em meio ao nada, um sniper começa a disparar seu rifle contra eles, e pronto, temos nossa carnificina. Se a ideia original de Downrange é promissora e permite uma gama de possibilidades, o mesmo já não se pode falar de sua execução e suas (diversas) pisadas na bola. O filme que inicialmente não perde tempo com lenga lenga e parte logo para  a matança dá uma travada violenta quando, no seu segundo ato, devaneia em sentimentalismos rasos (e com interpretações tragicômicas). Ainda exige de você, espectador, muito da sua suspensão de descrença para aceitar que algumas cenas possam fazer o mínimo de sentido. Sério, alguns momentos parecem saídos de Todo Mundo em Pânico. Porém, Downrange até tem lá seus méritos. O gore é competente, o assassino é bem trabalhado, com uma atmosfera de suspense em sua construção, e utilizando apenas um cenário natural, e excetuando suas cagadas, o roteiro te segura até o fim (afinal, se você já deu o play né?! Agora foda-se). Downrange não entrega um resultado final espetacular, mas não custa nada dar uma conferida.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Bloody Moon (Die Säge des Todes / Lua Sangrenta, 1981) | Jess Franco - Crítica




Por Mauricio Castro


Um psicopata misterioso mata cruelmente belas jovens em uma escola de idiomas na Espanha. Soa genérico? Poderia ser, se Bloody Moon não tivesse a mão do gênio bagaceira Jess Franco. A premissa “slasher mais do mesmo” ganha um tom imprevisível devido à total "falta de noção" do Espanhol. Se você já conhece o trabalho de Franco sabe bem do que estou falando. Erro de continuidade aqui é mato, jumpscares ridiculamente falhados, cenas inteiras sem um propósito dentro da trama, diálogos sem pé nem cabeça, trilha sonora mixuruca e as melhores piores atuações do mundo. Ainda assim, Bloody Moon está longe de ser ruim (filme ruim dele, pra mim, é Oasis de Zumbis, esse sim... credo). Lua Sangrenta é diversão pura, cheio de cenas memoráveis e aquele toque erótico que era a marca registrada do velhinho safado. Ah, e tem entre seus fãs o queridinho da galera descolada, Pedro Almodóvar. 

domingo, 20 de maio de 2018

Revenge, 2017 |Dir: Coralie Fargeat - Crítica


Por Mauricio Castro

O subgênero Rape and Revenge (produções sobre garotas violentadas que buscam vingança contra seus abusadores) tem desfrutado de novos ares após os remakes dos clássicos The Last House on The Left (Wes Craven, 1972) e I Spit in Your Grave (Meir Zarchi, 1978), simultaneamente lançados em 2009 e 2010. Essa nova abordagem pouco emula a atmosfera dos filmes originais, que apesar da premissa, são trabalhos essencialmente torture porn. Porém, dão oportunidade de revisitar (e descobrir) os títulos da época e ainda permitem que floresçam boas novidades ligadas ao subgênero, como é o exemplo de Revenge, produção francesa de 2017. Jen, vivida pela belíssima Matilda Lutz (de O Chamado 3), aceita passar o fim de semana com o amante, um playboy metido a caçador, e seus amigos em uma casa isolada do mundo em meio ao deserto. Como já citado acima, você bem sabe o que irá acontecer à pobre garota, e melhor, a vingança dela contra os três babacas é de arrepiar. Jen, que inicialmente apresenta a profundidade de personagem de um pires, e exala futilidade, aos poucos, após diversas agruras, vai se tornando uma badass, ao estilo Sarah Connor (guardadas as devidas proporções... e certas forçadas de barra). Um detalhe interessante destaca Revenge dos demais filmes do mesmo estilo: Aqui, o estupro é off screen, ou seja, não é explicito, e nem serve de apelação, com nudez e violência, algo explorado muito nos anos 1970 e 1980. Ambientado em areias escaldantes, Revenge alia suas influências com o cenário digno do cinema pós-apocalítico de Mad Max, Wheels of Fire e Stryker. Apesar de exigir muito de nossa suspensão da descrença em diversos momentos, e usar de artifícios absurdos para justificar conveniências de roteiro, Revenge entrega um resultado final divertido e nos deixa de alma lavada, após os litros de sangue que jorram na tela. 

terça-feira, 15 de maio de 2018

Day of the Dead (O Dia dos Mortos, 1985) | Dir: George Romero - Crítica



Por Mauricio Castro

Quando os detratores usam o ritmo lento de O Dia dos Mortos como argumento para o desqualificar, eles até estão certos. Realmente, Dia dos Mortos tem os seus dois atos iniciais extremamente arrastados. A primeira vítima de um zumbi é atacada somente aos 58 minutos. Porém, essa lentidão se justifica perante o que está por vir no ato final. Os 40 minutos finais irão recompensar, e muito, os que até ali chegaram. O Dia dos Mortos tem algo único na, até então, trilogia de Romero, recebe a influencia do Splatter italiano, e assim como em Zombie, de Lucio Fulci, o sangue jorra na tela, aos litros. Destaque para os efeitos do mestre Tom Savini. Além disso, as críticas de George Romero, como de praxe, se fazem presentes. Militarismo e abuso de poder (assunto que já havia sido abordado pelo diretor em Crazies, de 1973), conflito na ciência, cobaias e extermínio, machismo, e outros subtextos são explorados nas entrelinhas deste, que pra mim, é um dos melhores exemplares do subgênero já feitos (e meu favorito da trilogia).

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Boone: The Bounty Hunter, 2017 | Dir: Robert Kirbyson - Crítica


Por Mauricio Castro

Saber rir de si mesmo é um recurso cativante no cinema de ação. A prova disso é a boa avaliação do longa de Robert Kirbyson no IMDB e Rotten Tomatoes, por exemplo. Boone apresenta um programa de tv, no qual persegue pequenos contraventores, principalmente devedores de multas de trânsito (rs). Entre as vítimas, está Kevin Sorbo (isso mesmo, o eterno Hércules) atuando como ele mesmo. Além de caçado, Sorbo é alvo de piadas relacionadas ao fato de só ter feito sucesso com o papel do semideus. Quando surgem rumores de que o programa possa sair do ar, Boone decide solucionar um caso maior e aumentar sua audiência. Sendo assim, parte com sua equipe para o México, no encalço de um poderoso traficante. Boone: The Bounty Hunter é uma bobagem de orçamento limitado mas que transborda competência e diversão. O elenco conta ainda com um irreconhecível Lorenzo Lamas! Lembra dele?! 

quarta-feira, 2 de maio de 2018

You Were Never Really Here | Dir: Lynne Ramsay - Crítica


Por Mauricio Castro


Os críticos têm chamado o novo longa de Lynne Ramsay (Precisamos Falar Sobre Kevin) de "O Taxi Driver do século 21". Você sabe que são apenas comparações rasas e puramente marketeiras, não? Então, excetuando essas qualidades vendáveis, o filme tem suas reais e anda com as próprias pernas, não precisa de bengala elogiosa. Não se engane com a jornada de um ex-combatente contratado para resgatar a filha de um senador sequestrada por uma rede de prostituição infantil. Não é uma aventura, não é violência caricata, nada "Tarantinesco" ou divertido. You Never Really Here é sobre trauma e amargura. Se Combat Shock, filme sobre o drama de um soldado pós-Vietnã, de 1984, fosse bem realizado seria como esse. Aliás, quem sabe um dia a Marvel aprende e faz uma adaptação do Justiceiro nesse nível? Frank Castle merece. You Were Never Really Here ganhou prêmios de roteiro e ator em Cannes (merecido, Joaquim Phoenix está do caralho).

terça-feira, 1 de maio de 2018

Sleepaway Camp 2: Unhappy Campers (Acampamento Sinistro 2, 1988) | Dir: Michael A. Simpson - Crítica


Por Mauricio Castro

Sleepaway Camp, o original de 1983, dirigido por Robert Hiltzik, é constantemente eleito um dos melhores Slashers de todos os tempos, tanto pela sua criatividade, quanto pelo seu plot twist ao final do filme, um dos maiores mindfucks da sétima arte. Aliás, o autor deste texto aqui o coloca no seu top 10 Slashers sem pestanejar. Pois então, em 1988, temos a sequência, e sim, trazendo de volta a psicopata Angela Baker. No longa de 1983, a narrativa se baseava no whodunit, ou seja, você precisava descobrir quem seria o assassino. Desta vez, aos primeiros minutos, uma jovem já "vai pro saco" e você vislumbra a cruel responsável. Angela agora é monitora do acampamento Rolling Hills, e vai manter a ordem do local à base de muito sangue. Sério, o body count deste filme é coisa de louco. Além das mortes, o que não pode faltar em um Slasher que se preze? Putaria. Nesse quesito, essa sequência chega a desbancar o original. Tem muita sacanagem. E interessante que a assassina aqui verbaliza todo o moralismo que os seus semelhantes como Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo e Slumber Party Massacre deixam apenas no subtexto. Angela fala do quanto é conservadora e como odeia jovens liberais. Acampamento Sinistro é uma sequência que não faz feio se comparado ao original. Abra uma cerveja e assista sem medo.

Deathgasm, 2015 | Dir: Jaison Lei Howden - Crítica


Por Maurício Castro

Em 2014, a Nova Zelândia daria ao mundo o divertidíssimo mockumentary What We Do in the Shadows (O Que Fazemos nas Sombras, de Taika Waitti), sobre a rotina de quatro amigos vampiros, e como eles tentam adaptar seus hábitos soturnos aos tempos (pós) modernos. No ano seguinte, mais uma produção iria arrebatar os fãs de horror. O longa em questão é Deathgasm, um deleite aos apaixonados por cinema b do quilate de Evil Dead, Fome Animal e Bad Taste. Brodie, um jovem headbanger, tenta desopilar das suas frustrações sociais (bullying e uma família cristã) tocando com sua banda, a Deathgasm, formada por dois amigos nerds e um metaleiro mais velho e malandro. Porém, sua vida vira (literalmente) um inferno após descobrirem os escritos de um Hino Satânico (isso mesmo, tipo o Necronomicom). A partir disso, Deathgasm nos brinda com gore digno da fase áura de Sam Raime e Peter Jackson. Cheio de referências e homenagens, o longa tem cenas que entram fácil no hall dos melhores "Terrir". A principal delas inclui consolos de borracha e bolinhas de pompoarismo sendo usadas como armas.