segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O Animal Cordial (2017) | Dir: Gabriela Amaral Almeida


Após diversos trabalhos para a televisão e a realização de curtas metragens, Gabriela Amaral Almeida estréia na direção em um longa seguro e cheio de personalidade, esse é O Animal Cordial.

Inácio (Murilo Benício) é dono de um restaurante que, pelos indícios do roteiro, já teve dias melhores e vive às custas da popularidade de outrora. Um chefe que acredita no conceito de que o "olho do dono que engorda o gado", e assim, faz questão de controlar o local (e os funcionários) com rédea curta, ou seja, um patrão daqueles... pau no cu. O clima nesse restaurante já é pesado desde o começo do filme. E é nesse ambiente, e apenas neste ambiente, que a loucura de Animal Cordial vai se desenrolar.

Completando o cenário da tragédia temos uma funcionária puxa-saco (sempre tem né?), os poucos clientes da noite (um casal pequeno burguês e um solitário misterioso), um cozinheiro homossexual e empoderado (meu personagem favorito do longa, aliás), e o elemento catalisador de toda essa tensão: os dois ladrões que irão invadir o espaço. 

Animal Cordial segue uma linha perigosa dos longas metragens ambientados em apenas um cenário. Esse tipo de produção precisa de um roteiro impecável para que se sustente e mantenha a atenção do espectador, afinal, seus recursos são limitados.  E nisso o filme de Gabriela segura a onda, e mais, não recorre nem mesmo aos flashbacks para "escapar" da atmosfera do enclausuro, nada disso, Animal Cordial é um filme sem alívio. 

Animal Cordial usa uma premissa extremamente simples para se revelar uma metáfora sobre a luta de classes, expõe os preconceitos do brasileiro médio, e sem dúvida é ótima surpresa e um dos melhores filmes de terror nacional dos últimos anos!

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A Primeira Noite de Crime (The First Purge, 2018) | Dir: Gerard McMurray - Crítica


Por Mauricio Castro

The Purge é uma franquia que se define pelo "quase". A premissa, estabelecida no primeiro filme da série, na qual durante 12 horas o crime seria legalizado no Estados Unidos, gera uma gama de possibilidades e poderia (leia bem: poderia) render momentos épicos de violência e transgressão no cinema. Porém, nenhum dos longas até agora (e já chegamos ao quarto) vai muito além de passatempo e produções quase interessantes, quase marcantes e que quase não lembramos após assistirmos.

A Primeira Noite de Crime trata-se do prequel de toda essa história, ou seja, nesta sequência vemos a criação do experimento realizado pelos New founding Fathers of America. O local escolhido para o teste é uma ilha de comunidade majoritariamente negra e pobre. Os participantes do Purge receberão uma quantia razoável em dinheiro referente aos seus atos e interação no evento. Traduzindo: o governo americano irá pagar para os negros e pobres se matarem entre si, fazendo assim, um controle populacional. 

Sob a direção de Gerard McMurray, The First Purge aborda de modo explícito a questão racial nos Estados Unidos. Mais propício impossível, já que a terra do Tio Sam está sob o comando de um senhor mimado com zero empatia e completamente alheio aos problemas sociais. A violência nas comunidades, o descaso, e a manipulação de massa são os principais tópicos de debate em A Primeira Noite de Crime. Os vilões são caricaturas de burocratas, membros da Ku Klux Khan, Nazistas, Tiras e por aí vai. Os heróis (e anti-heróis) são sobreviventes do gueto, gente das ruas, delinquentes e invisíveis. 


Toda esse papo deve estar fazendo você pensar que The First Purge é um filmaço, não? Quase. Como dito lá em cima, o novo The Purge quase chega lá. É uma produção perdida em seu roteiro e abre tantas subtramas que fica impossível conclui-las, ou fazer o espectador ficar atento a elas. Tanto que alguns personagens são abandonados da história e voltam do nada. O ato final é bom, não tanto que justifique e salve o resto do longa. Mas tem seus momentos.

Apesar de produzido pelo "explosivo" Michael Bay, The First Purge não será lançado em cinemas no Brasil. 

sábado, 15 de setembro de 2018

Mandy (2018) | Dir: Panos Cosmatos - Crítica


Por Mauricio Castro

O Italiano George P. Cosmatos, falecido em 2005, realizou alguns dos mais memoráveis filmes de ação de todos os tempos, entre eles: Rambo 2, Cobra (por aqui conhecido como Stallone Cobra, clássico absoluto do SBT), A Travessia de Cassandra e o faroeste Tombstone.

Seu filho, Panos Cosmatos faz um cinema autoral e que, em parte, segue os passos do mestre. Porém, sua linguagem e abordagem são menos convencionais, bem menos, diga-se de passagem. A premissa de Mandy, a princípio simples, vai decepcionar muito os desavisados que procuram o escapismo de uma Cannon Group ou as explosões inconsequentes dos filmes do velho Cosmatos. Red, vivido pelo famigerado Nicolas Cage, tem sua namorada raptada e morta violentamente por uma gangue de hippies lunáticos, e parte em busca de vingança. À primeira vista mais um filme de ação e vingança, não? Algo Tarantinesco talvez. Ledo engado, se você espera algo do tipo vai quebrar a cara.


Apesar do plot nitidamente exploitation, Mandy usa recursos visuais muito ricos e super exagerados, lembrando os trabalhos mais psicodélicos de Gaspar Noé. E é claro que essa tendência de usar  cores em neon pode incomodar alguns e tornar a experiência (muito) cansativa. Sinceramente, a primeira hora de Mandy, devido a sua fotografia e seu roteiro lento, é um desafio e exige paciência. Ou você embarca na viagem alucinógena ou desiste.

Porém, a segunda hora e seu ato final reservam grandes momentos de violência, e faz toda a espera ser recompensada. Nicolas Cage, conhecido por seu overacting, suas caras e bocas, e papéis canastrões, fica super à vontade e deixa todo seu potencial de louco varrido transparecer na tela. 


Mandy é uma mistura louca dos apelativos Satan's Sadists e I Drink Your Blood com os delírios visuais de Enter the Void. Não é para todos os públicos, mas acredito que deve ser violento e divertido o suficiente para deixar o saudoso George P. Cosmatos orgulhoso.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

What Keeps You Alive (2018) | Dir: Collin Minihan - Crítica


Por Mauricio Castro

Em 2011, sob o pseudônimo de The Vicious Brothes, o canadense Collin Minihan e o americano Stuart Ortiz chamaram atenção dos festivais de cinema fantástico ao redor do mundo com seu modesto Grave Encounters (Fenômenos Paranormais, aqui no Brasil). Os renomados Sitges e Tribeca deram uma baita moral ao trabalho dos garotos. Os anos seguiram e a dupla continuou firme, estabelecendo sua marca no underground.

Eis que chegamos em 2018, e Collin Minihan, sabe-se lá porquê, decide alçar um vôo solo. Sem o projeto Vicious Brothers, Minihan prova que aguenta o tranco quando o assunto é direção e não faz feio. 

Whats Keeps You Alive tem uma premissa simples, até um tanto batida, mas fica nítido que o longa não tem a pretensão de reinventar a roda do horror.

Para celebrar o primeiro aniversário de casamento, a jovem Jackie leva sua esposa Jules até sua casa nas montanhas, um lugar cheio de valor afetivo, já que ela passou boa parte da infância no local, aprendendo a caçar com o pai. Ao chegar, o ambiente isolado e inóspito da natureza, permite que Jackie revele sua verdadeira personalidade e coloque em risco a vida de sua companheira. 

Além da direção acertiva de Minihan, destaca-se a atuação das duas atrizes principais: Hannah Emily Anderson e Brittany Allen (ambas presentes em Jigsaw, filme do ano passado). Você de fato acredita na fragilidade de Jules e na frieza (e psicopatia) de Jackie. 

Como nem tudo são flores, o longa tem seus deslizes e aposta muito nas conveniências de roteiro para criar situações de perigo. A fragilidade de Jules, em certos momentos irrita, e muito! Sabe os jovens burros que sempre fazem escolhas idiotas nos slashers? Então...

Porém, What Keeps You Alive surpreende e, ao menos pra mim, é uma boa surpresa do terror em 2018. 

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Fugitivo Sanguinário (Autostop Rosso Sangue/Hitch-Hike, 1977) | Dir: Pasquale Festa Campanile


Por Mauricio Castro

Fugitivo Sanguinário é uma verdadeira jóia obscura dos thrillers setentistas. Dirigido pelo prolífico Pasquale Festa Campanile, a produção reúne todos os elementos pessimistas e violentos em voga na década, porém, não figura entre os mais lembrados, como por exemplo, seus semelhantes americanos: Sob o Domínio do Medo, A Outra Face da Violência e Amargo Pesadelo. Se fosse realizado nas terras do tio Sam, ao invés da Itália, Fugitivo Sanguinário seria, com certeza, um dos grandes clássicos da Nova Hollywood. 


O Casal Walter e Eve, que estão em situação limítrofe de tesão e repulsa, viajam pela região montanhosa dos Estados Unidos e passam a maior parte do tempo trocando juras de ódio e transando loucamente. Ele (nosso amado Franco Nero!), um jornalista sem renome, bêbado e salafrário, ela (a belíssima Corinne Cléry), é uma mulher misteriosa, com um indecifrável olhar de Monalisa. Essa dupla irá cruzar o caminho de um ladrão em fuga (David Hess, de Aniversário Macabro) transformando a vida de ambos, que já é uma merda, no verdadeiro inferno na estrada.


Provavelmente a primeira coisa que vem a sua cabeça ao ler a sinopse é: A Morte Pede Carona. Ledo engado. Autostop Rosso Sague não é unilateral, nem previsível. É um filme de violência ambígua, cheio de subtextos e camadas, como: ambição, homossexualidade, ciúmes e posse. Se comparado, estaria ao lado de Rabid Dogs, de Mário Bava, outro exemplar italiano de absurda violência. 

Sua ambientação, nas lindas montanhas de Gran Sasso, na Itália, reforça o caráter labiríntico e solitário, da obra. Como em um jogo de gato e rato, os personagens se reencontram, como se sair daquele local fosse algo impensável. A relação vítima-algoz adquire em Fugitivo Sanguinário um tom de cumplicidade e simpatia, quase um complexo de Estocolmo. Entretanto, o pior dos males não é o fugitivo. Konitz, o psicopata vivido por David Hess, é apenas a representação mais simples da maldade que a estrada apresenta. 


Uma curiosidade: Poucos dias antes do começo das filmagens, Franco Nero teria quebrado o braço nas gravações do clássico Keoma, obrigando Pasquale a repensar o roteiro e bolar às pressas uma solução para o caso. Por isso, em Auto Stop Rosso Sangue, você verá a esposa de Walter dirigir o carro na maior parte das cenas, e o jornalista bêbado terá a mão ferida numa queda, durante suas bebedeiras. 
Ah, e destaque para a trilha sonora, a cargo do mestre Ennio Morricone.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Freaklândia - O Parque dos Horrores (Freaked, 1993) Dir: Alex Winter e Tom Stern - Crítica


Por Mauricio Castro 

Alex Winter, figurinha conhecida pelo seu papel em Bill e Ted: Dois Loucos no Tempo, assume a direção em um filme que acabou se tornando um pequeno clássico do Cinema em Casa dos anos 1990. Estamos falando de Freaked, ou Freaklandia: O Parque dos Horrores, como ficou famoso na extinta sessão vespertina do patrão Silvio Santos.

Uma comédia de humor, no mínimo, peculiar. Lançado em 1993, a produção capta muito o tom das piadas da época, como Beavis and Butt-Head e AAAHH!!! Real Monsters (lembra?!). Esse toque cartunesco (e completamente retardado) é apenas parte da receita. Para completar, temos nojeiras à Cronenberg, referências a clássicos do Sci-fi e Horror, e um elenco que reúne o "fino da bossa" do cinema B. 


Alex Winter, além de dirigir, atua no papel de Ricky Coogan, o astro de cinema que aceita uma bolada para promover um adubo, um tanto suspeito, na américa do sul. Chegando ao local, Ricky dá de cara com ativistas e se interessa por uma das engajadas, Julie. Ricky, seu amigo Ernie, e Julie partem para um passeio e curiosos com um Parque de Bizarrices, decidem conhecer o local. Depois disso, é ladeira abaixo. 


Como dito antes, Freaklândia conta com um time e tanto! Voltando da Lagoa Azul temos Brooke Shields, MR.T, o negão porrada de Esquedrão Classe A e Rocky 3, Bobcat Goldthwait de Loucademia de Polícia, Randy Quaid, nomeado ao Oscar e ganhador de Globo de Ouro, mas que por nós, sempre será lembrado por Férias Frutradas, Michael Stoyanov da série Blossom, e Keanu Reeves, como Ortiz, o garoto-cão (rs).


Freaklândia surgiu de dois projetos bem modestos: O MTV Idiot Box, no qual Winter era roteirista, e o curta, de 11 minutos, intitulado Bar-B-Q. 

Com um orçamento de 12 milhões de dólares, Freaklândia se tornou, segundo seus próprios criadores, um cult instantâneo. Agradando crianças e adolescente, por seu tom infantil e descompromissado, e os fãs de horror, que sacaram as referência à Freaks, clássico maldito de Tod Browning. 

Ah, e a trilha sonora, rechada de punk e hc, fica a cargo dos Butthole Surfers!

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Summer of 84 (2018) | Dir: Anouk Whissell, François Simard e Yoann-Karl Whissell - Crítica


Por Mauricio Castro

Os criadores de Turbo Kid desta vez embarcam na onda de revisitar os anos 1980 para contar uma história cheia de mistério, paranoias e hormônios adolescentes. Davey, o entregador de jornais do bairro, assiste a vida passar de forma tediosa no subúrbio e anseia para que  algo diferente aconteça em sua rotina. Quando os noticiários locais começam a informar sobre o desaparecimentos de jovens na região, o garoto vê a chance de partir para uma aventura no encalço do serial killer. Ao lado de Davey, temos a turminha clássica de sessão da tarde: o melhor amigo grandão e medroso, o PUNK taradinho, e o nerd (visivelmente um Bill Gates em miniatura). 


Se em Turbo Kid, (filme visto por poucos, mas admirado por alguns... eu inclusive!) o trio de diretores se arriscava sem amarras, e desafiavam os limites do humor negro, o mesmo não acontece no comedido e "mais acessível" Summer of 84. A produção ao se valer da formula "Stranger Things/It" acaba sendo só mais um na crescente gama de filmes semelhantes. A premissa "Grupo de púberes que saem para uma aventura de verão" tem sido tão explorada, que cada novo exemplar precisa de química, carisma, e ritmo para se destacar.  E destes quesitos, talvez o maior pecado de Summer of 84 seja seu ritmo. Lento e baseado na obviedade. 

Contudo, Summer of 84 mostra ao que veio em seu ato final. Seus minutos finais são dignos de um ótimo slasher e o roteiro decide tomar rumos corajosos na sua conclusão, principalmente em relação à violência em tela. Todo o timing, até então meio broxa do longa, é deixado de lado e ação se desenvolve. Antes tarde do que nunca! 

Summer of 84 pode ser acusado de genérico e menos original, se comparado com Turbo Kid. Mas, ao que se propõe, é competente, e cumpre seu papel de thriller juvenil bem acabado e nitidamente feito com esmero e respeito pela nostalgia.


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Puppet Master: The Littlest Reich (2018) | Dir: Sonny Laguna, Tommy Wiklund - Crítica



Por Mauricio Castro

"Antes, preciso dizer que isso é apenas uma fanfic, mesmo assim, acho melhor que os últimos três originais". A piada, dita por um dos personagens, cai como uma luva ao novo filme da série Mestre dos Brinquedos. Confesso que eu não estava lá muito interessado (e confiante) nesta sequência, nem mesmo o roteiro, escrito por S. Craig Zahler (diretor dos espetaculares Bone Tomahawk e Confronto no Pavilhão 99) vinha me convencendo que seria algo interessante. Mas sabe de uma coisa? Puppet Master: The Littlest Reich é  divertido pacas e se assume como um filme bobo, e ultra-violento! 


Charles Band, da Full Moon Pictures, e pai da franquia, novamente assume as rédeas da produção e sua presença é nítida nas (cavalares) doses humor negro e a enxurrada de baboseiras que brotam em 1 hora e 30 minutos de filme. As mortes estão hilárias e super criativas neste capítulo, a melhor delas envolve uma gestante. Isso mesmo, ninguém é poupado nas mãos dos brinquedos. Mas não se preocupe, a cena é uma galhofa só e nada além de cômica.

O elenco é um deleite aos amantes dos filmes vagabundos dos anos 80: A musa Barbara Crampton, nosso amado Udo Kier (que aliás, é um dos meus Dráculas favoritos, o assista em Sangue para Drácula, de Paul Morrissey), temos ainda Matthias Hues, figurinha carimbada em filmes de artes marciais das décadas de 80 e 90. 


Puppet Master: The Littlest Reich é uma baita homenagem para uma franquia que nunca foi lá essas coisas, mas que ainda rende boas risadas.

sábado, 4 de agosto de 2018

Errementari: El Herrero y el Diablo (2017) | Dir: Paul Urkijo - Crítica



Por Mauricio Castro

Sendo bem direto, Errementari é um filmaço! A Produção do cultuado Álex de la Iglesia é um deleite aos entusiastas da fantasia e do horror fabulesco. Ambientando pouco após a guerra das Carlistas, no século 19, o longa de Urkijo usa (e muito bem) a premissa do mal mundano contra males maiores, e mais perversos. Temido por todo o vilarejo, o ferreiro Patxi é considerado pior que o próprio demônio, anti-social, traumatizado e cruel. Mesmo com essa (má) fama, um representante do governo decide investigar sua casa (leia-se fortaleza) e hábitos. Nesse local, o investigador, o padre local e uma menina curiosa irão descobrir que o ferreiro é responsável pela guarda de um mal ainda pior. Com um roteiro bem amarrado, que poderia ter saído de um livro dos irmãos Grimm, e uma recriação de época modesta, porém, super eficaz, Errementari é um filme que te ganha na base do carisma, principalmente por conta de Patxi e da pequena Usue. 


domingo, 29 de julho de 2018

Rodas de Fogo (Wheels of Fire, 1985) | Dir: Cirio H. Santiago - Crítica



Por Mauricio Castro

O filipino Cirio H Santiago ostenta um currículo invejável quando se fala em cinema exploitation, produções pós-apocalípticas e tranqueiras cheias de mulher pelada. Dedicado ao cinema B, e na ativa desde os 1960, o prolífico cineasta se aproveitou de todos os subgêneros apelativos que pode. E é claro que não iria desperdiçar a chance de ter sua versão fajuta (e mais picante) de Mad Max. O hit ozploitation de George Miller rendeu dezenas de imitações, mas Wheels of Fire é talvez a melhor delas, e acredite em mim, um filme tão divertido quanto o original australiano. 


Ao invés de Max, temos Trace (Gary Watkins), um anti-herói típico desse tipo de aventura: um brucutu desconfiado, de pavio curto e louco para fazer justiça com as próprias mãos. Após sua irmã (a gostosa Lynda Wiesmeier) ser sequestrada por uma bando de foras da lei, liderados por Scourge (Joe Mari Avellana), Trace, a bordo de seu muscle car, parte numa jornada de resgate, que vai render muita porradaria e chumbo grosso. 


Como descrito acima, Wheels of Fire é uma versão com mais putaria que o longa de Miller. E muito disso por conta dos fartos (e lindos) peitos de Lynda Wiesmeier.  Na época, Lynda era playmate da playboy e exibia suas curvas em filmes de, digamos, orçamento limitado. 
Lynda Wiesmeier numa cena clássica de Wheels of Fire

Rodas de Fogo é um belo exemplo do cinema de CIrio H, Santiago. Um cineasta obscuro do exploitation, falecido em 2008, mas que merece maior atenção dos fãs de cinema vagabundo. 

Bastidores de Wheels of Fire




sexta-feira, 27 de julho de 2018

O Culto (Endless, 2018) | Dir: ‎Justin Benson‎, ‎Aaron Moorhead


Por Mauricio Castro

O Culto tem potencial de ser o novo queridinho do terror da temporada. Após Corra!, A Quiet Place e Hereditário, seria O Culto a próxima menina dos olhos do público e crítica? Pois então, se depender das 5 estrelas e 97 % de aprovação do Rotten Tomatoes ele já é um sucesso, e isso ninguém questiona. O filme independente, escrito, dirigido e atuado por Justin e Aaron, começa promissor, cita Lovecraft, se apropria do horror cósmico e... não me cativou. A premissa sobre dois irmão, ex-membros de uma "seita suicida", que retornam ao grupo após receberem um vídeo misterioso, poderia gerar um filme no nível de Kill List, de 2011. Mas é pretensioso, de uma seriedade desnecessária, e o humor (as vezes involuntário) nada pontual. Propositalmente confuso, com suas questões sobre o tempo, O Culto será daqueles filmes que os fãs irão dizer que você não vai entender, que é um filme para poucos... Pra mim, papo furado. 

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Breakdown - Implacável Perseguição (Breakdown, 1997) | Dir: Jonathan Mostow - Crítica



Por Mauricio Castro

Todo mundo que se interessa por cinema tem carinho por algum filme considerado "menor" e aos olhos de muitos, subestimado. Ontem, revendo Breakdown: Implacável Perseguição(1997), tenho certeza que esse é um dos meus. Dirigido por Jonathan Mostow, que mais tarde faria U-571 e o (muito) questionável Exterminador do Futuro 3, Breakdown é um thriller de ação na estrada, sem lenga-lenga, e certeiro. Até a premissa é urgente e sem tempo pra conversa: Um casal em viagem pelo deserto americano acaba com o carro enguiçado na estrada. Após a garota (Kathleen Quinlan) aceitar carona de um caminhoneiro (J.T Walsh), para procurar ajuda, ela desaparece. E começa a busca de Jeff (nosso ídolo, Kurt Russell) em busca da sua esposa. Uma mistura de Mad Max, Sob o Domínio do Medo e Encurralado. Infinitamente reprisado na tv aberta, Breakdown é um pequeno clássico (particular, ao menos pra mim).



Em breakdown, Kurt Russell sai da zona de conforto do herói de filmes de ação. Ou seja, aqui não temos nada ao estilo Fuga de Nova York, Aventureiros do Bairro Proibido ou Tango & Cash. Sobra a jornada do homem comum, descobrindo-se um sobrevivente e reunindo forças para revidar a violência que sofre. Se acima comparei Breakdown com Sob o Domínio do Medo, uma das obras-primas do mestre Sam Peckinpah, é justamente essa semelhança que salta à tela. Em Sob o Domínio do Medo, Dustin Hoffman, um tímido acadêmico, precisa defender sua casa, a esposa recém-violentada e um rapaz inocente da fúria de caipiras sedentos de sangue. O personagem de Hoffman, sob pressão, se mostra uma fera e parte para a matança. Jeff, o personagem de Russell, irá pelo mesmo caminho. Sem habilidades especiais, sem resistência física, e com um figurino almofadinha, vai dar o troco nos rednecks. 


Breakdown teve o orçamento de 36 milhões e produção do lendário Dino de Laurentiis. Gravado a céu aberto, quase inteiramente à luz do dia, o filme sabe onde usar a verba: carros capotando, tiros e explosões. Cenas marcantes de perseguição são reservadas ao terceiro ato, e um encerramento emblemático que deixa no espectador uma sensação de alma lavada. 




Kurt Russell, Dino De Laurentiis, Jonathan Mostow, e Martha De Laurentiis durante a gravação de  Breakdown (1997)

domingo, 22 de julho de 2018

Comboio do Terror (Trucks, 1997) | Dir: Chris Tomson


Por Mauricio Castro 

O telefilme de Tomson se trata da segunda adaptação do conto Trucks, presente no livro Sombras da Noite, de Stephen King. O próprio autor já teria realizado (cometido), em 1986, Maximum Overdrive, a primeira sofrível versão do seu próprio texto. Pois bem, o filme de 1997 vai muito além do original? É algo que vai acrescentar algo na sua bagagem cinematográfica? Caro leitor, no momento que você se presta a assistir um filme sobre caminhões assassinos (que, aliás, se conduzem sozinhos) não tem o direito de reclamar sobre qualidade ou verossimilhança. Portanto, caso você procure um passatempo divertido (mas nem tanto) e algumas doses de humor negro, vale a pena sim, abrir uma cerveja, um pacote de salgadinhos e conferir Trucks. Fiz isso em um sábado à noite, uma sessão dupla, primeiro Comboio do Terror e na sequência Cyborg - O Dragão do Futuro (em breve falamos dele). Sobrevivi e fui dormir faceiro após uma overdose de cinema vagabundo.



Você conhece o trabalho de Chris Tomson, quer apostar? Ele é o responsável pelo infinitamente reprisado "sucesso" do cinema em casa do SBT, e filme que ostenta um dos melhores títulos nacionais de todos os tempos, estou falando de... Enchente: Quem Salvará Nossos Filhos? (The Flood: Who Will Save Our Children?) Sim, o nome original da obra é esse mesmo, ou seja, a distribuidora não é culpada pelo nome esdrúxulo nesse caso.

A premissa de Trucks é tão destrambelhada e ridícula quanto sua execução. Na cidade interiorana de Lunar, “famosa” ( famosa pero no mucho, vide que o número de habitantes não deve chegar a 10) por suas aparições de OVNIS, um grupo de “turistas” e moradores acabam encurralados em meio a caminhões, que misteriosamente ganham vida, e sem razão aparente decidem eliminar a raça humana. Comboio do Terror tem ao menos dois momentos que valem o filme! Um deles envolve um caminhão psicopata... de brinquedo, e o outro, uma morte, no melhor estilo slasher orquestrada por um assassino.. inflável, isso mesmo, duas sequências totalmente retardadas, mas que ilustram bem o seu (baixo) nível e total despretensão. Outra qualidade de Trucks é saber usar recursos práticos e zero CGI em suas cenas de ação, ou seja, os carros e caminhões se destroem pra valer, e quando algo explode é de verdade! A Asylum Pictures nessa situação usaria computação gráfica vagabunda, caminhões falsos e no mínimo enfiaria dois tubarões na trama.



Comprei o Dvd de Trucks - O Comboio do Terror, em uma vídeo locadora que estava fechando suas portas e liquidando todo seu acervo. Por míseros 5 reais adquiri essa tranqueira que, apesar de tudo, e em meio a tanta porcaria lançada no gênero de horror, sabe rir de si mesma e não é de se jogar fora.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Turbo Kid (2015) | Dir: François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell - Crítica


Por Mauricio Castro

O pós-apocalíptico ano de 1997 é o cenário para Turbo Kid, uma aventura divertida e... encharcada de sangue. O órfão Kid, aficionado por histórias em quadrinhos, não tem muito o que fazer em um mundo devastado, então passa o tempo catando tralha no lixão e correndo com sua bike pelos escombros. Isso sempre afastado do território de Zeus, um filho da puta que usa o sangue de humanos como matéria prima para fabricar a água que consome. Mas Kid terá sua pacata rotina abalada pela chegada de Apple, uma garota gente fina e um tanto destrambelhada...



Além de apenas emular a atmosfera oitentista, e jogar referências na tela, o longa dos jovens  François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, consegue ter vida própria e segurar a barra com recursos limitados. Sem os carros de Mad Max, temos bicicletas BMX, sem Tina Turner, temos o vilão por excelência, e que parece estar se divertido pacas, Michael Ironside. E para os fãs de horror sobram litros de sangue e tripas! Lembra de Hobo With a Shotgun? Então, Turbo Kid tem o mesmo "senso de humor". Claro que o longa tem os deslises típicos da inexperiência dos jovens diretores, mas compensa suas falhas sabendo rir de si mesmo. 

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Visiting Hours (Horário de Visita, 1982) | Dir: Jean-Cloud Lord - Crítica


Por Maurício Castro

Em 1982, o subgênero slasher proliferava exponencialmente e sua fórmula ainda não havia saturado. Pelo contrário, ia de vento em popa, afinal, começavam a nascer franquias e novos personagens que se tornariam marcantes no horror. Porém, alguns longas saíam do lugar comum a abordar o mesmo feijão-com-arroz sob perspectivas peculiares e até com maior profundidade nas suas entrelinhas. Ao falar sobre a misoginia de forma explícita, e crítica, Horário de Visitas é um caso acima da média. Se outros slashers deixavam o moralismo, e o ódio ao feminino, implícito no psicológico do assassino, e nos davam vislumbres através das mortes, o filme de Jean-Cloud Lord não faz questão de esconder que o serial killer (vivido pelo sempre ótimo Michael Ironside) odeia as mulheres e além de mata-las, não quer que elas tenham voz ativa. Sujeitinho problemático pra caralho, mas que você conhece muito bem e aposto que já cruzou com alguns no seu círculo de convívio, não é mesmo? Isso que torna o assassino de Visting Hours um psicopata tão crível e ameaçador. 




Indignado com a jornalista, defensora dos direitos das mulheres, Deborah Ballin (a oscarizada Lee Grant), o personagem vai transformar a vida da moça em um inferno. Após o primeiro ataque, na residência de Ballin, ele passa a persegui-la no hospital em que fora internada, devido aos ferimentos causados pelo maluco. Nesse ponto temos o ambiente claustrofóbico hospitalar aliado à paranoia da perseguição.



A estrutura de Horário de Visita se assemelha a slashers menos convencionais, ou seja, não espere um Sexta-Feira 13 aqui. Visto que a produção apresenta uma narrativa propositalmente lenta, construindo a personalidade do psicopata, e o medo da vítima, pouco a pouco. Se você gosta de Maniac, de William Lustig, e O Padrasto, de Joseph Ruben, pode ir ver sem medo de ser feliz.
O elenco conta ainda com William Shatner (que dispensa apresentações) e a cantora e atriz Linda Purl. 

domingo, 24 de junho de 2018

Hereditário (Hereditary, 2018) | Dir: Ari Aster - Crítica


Por Mauricio Castro 


As comparações e "puxa-saquismos" da mídia em torno do longa de Ari Aster, bradam: Hereditário é o novo Exorcista! O Filme de Terror do Século! O Mais assustador desde blá blá blá...Você aí, gato e gata escaldado(a), não vai cair nessa, não é mesmo? Pois bem. Excetuando todo o hype em cima da obra, o que sobra é sim um filme interessante e acima da média do que chega até as grandes salas comerciais. Isso é um elogio? De certa forma. Afinal, uma produção do calibre de Hereditário ser exibido em shopping center já é algo a ser louvado. Longe de ser uma obra-prima do horror, um longa que deixa a platéia (de blockbusters) em um silêncio incômodo por mais de duas horas já vale o ingresso. Os pontos negativos, pra mim, são justamente as concessões que Ari Aster abre aos que buscam o "horror comercial", com recursos já batidos e de fácil assimilação. E o timing... Hereditário pretende cansar o espectador, compreensível, mas parece perder o momento de "dar o bote" e adentrar o bizarro, e finalmente quando o faz, soa tardio. Enfim, assista, mas sem esperar a reinvenção da roda do terror.

domingo, 17 de junho de 2018

La Nuit a Dévoré le Monde (A Noite Devorou o Mundo, 2018) | Dir: Domenique Rocher - Crítica



Por Mauricio Castro


Em cartaz no Festival Varilux de Cinema Francês, o longa de estréia de Domenique Rocher tem a pretensão de usar o apocalipse zumbi como metáfora sobre a solidão humana, incomunicabilidade e todo um subtexto que dialoga muito mais com o drama existencial do que o horror. O jovem Sam, após romper com a namorada, vai até casa da garota buscar seus pertences. Ao chegar no local, e se deparar com um festa, decide se retirar a um cômodo vazio, e lá adormece. Porém, ao acordar (de um sono muito pesado, diga-se de passagem) se vê em um mundo tomado por uma horda de mortos-vivos. Como um náufrago urbano, ilhado em um prédio desabitado, Sam é a testemunha de uma civilização que chega ao seu crepúsculo. Se a premissa não apresenta grandes novidades, o mesmo não se pode falar de sua execução. Seja ela monótona ou não, é ao menos, interessante. Boa parte do longa exibe Sam como uma pessoa normal, inventando passatempos para não surtar. Tocando bateria, fazendo uma orquestra com utensílios domésticos, se exercitando... ou seja, o dia a dia, porém, sozinho. Se fugir do lugar comum dos filmes de zumbi te interessa, mesmo que para isso tenha que encarar um "papo cabeça" e por vezes entediante, veja A Noite Devorou o Mundo.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Demônios e Maravilhas, 1987 | Dir: José Mojica Marins - Crítica


Por Mauricio Castro

Documentário, Cinebiografia, Docudrama, Mockumentary... Difícil usar um termo que defina perfeitamente a narrativa usada por José Mojica Marins em Demônios e Maravilhas, produção de 1987, que remonta fatos dramáticos da vida pessoal do cineasta e sua luta para conseguir fazer cinema de gênero em um país sob o flagelo da ditadura militar. Sem diálogos, e narrado em off pelo próprio diretor, o filme de 50 minutos expõe ainda os famosos delírios fílmicos comuns na obra de Mojica. Principalmente na sequência de sua (quase) morte por alguns minutos, na qual ele vai ao além. Focando em sua carreira na década de 1970, e chegando até Delírios de um Anormal, de 1978, Demônios e Maravilhas é antes de tudo, um registro histórico, documental, quando um cineasta lança um olhar sobre sua própria obra e sobre si mesmo.

CURIOSIDADE: A trilha sonora de Demônios e Maravilhas é completamente surrupiada por Mojica na maior cara de pau! Temas clássicos do cinema como Carruagens de Fogo, 007, Missão Impossível, Shaft, do Isaac Hayes, Koyaanisqatsi  de Philip Glass, são usadas sem o menor pudor, e claro, sem autorização prévia. Caramba, toca até Pink Floyd no filme (Atom Heart Mother e Time). Grande Mojica!