segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Fugitivo Sanguinário (Autostop Rosso Sangue/Hitch-Hike, 1977) | Dir: Pasquale Festa Campanile


Por Mauricio Castro

Fugitivo Sanguinário é uma verdadeira jóia obscura dos thrillers setentistas. Dirigido pelo prolífico Pasquale Festa Campanile, a produção reúne todos os elementos pessimistas e violentos em voga na década, porém, não figura entre os mais lembrados, como por exemplo, seus semelhantes americanos: Sob o Domínio do Medo, A Outra Face da Violência e Amargo Pesadelo. Se fosse realizado nas terras do tio Sam, ao invés da Itália, Fugitivo Sanguinário seria, com certeza, um dos grandes clássicos da Nova Hollywood. 


O Casal Walter e Eve, que estão em situação limítrofe de tesão e repulsa, viajam pela região montanhosa dos Estados Unidos e passam a maior parte do tempo trocando juras de ódio e transando loucamente. Ele (nosso amado Franco Nero!), um jornalista sem renome, bêbado e salafrário, ela (a belíssima Corinne Cléry), é uma mulher misteriosa, com um indecifrável olhar de Monalisa. Essa dupla irá cruzar o caminho de um ladrão em fuga (David Hess, de Aniversário Macabro) transformando a vida de ambos, que já é uma merda, no verdadeiro inferno na estrada.


Provavelmente a primeira coisa que vem a sua cabeça ao ler a sinopse é: A Morte Pede Carona. Ledo engado. Autostop Rosso Sague não é unilateral, nem previsível. É um filme de violência ambígua, cheio de subtextos e camadas, como: ambição, homossexualidade, ciúmes e posse. Se comparado, estaria ao lado de Rabid Dogs, de Mário Bava, outro exemplar italiano de absurda violência. 

Sua ambientação, nas lindas montanhas de Gran Sasso, na Itália, reforça o caráter labiríntico e solitário, da obra. Como em um jogo de gato e rato, os personagens se reencontram, como se sair daquele local fosse algo impensável. A relação vítima-algoz adquire em Fugitivo Sanguinário um tom de cumplicidade e simpatia, quase um complexo de Estocolmo. Entretanto, o pior dos males não é o fugitivo. Konitz, o psicopata vivido por David Hess, é apenas a representação mais simples da maldade que a estrada apresenta. 


Uma curiosidade: Poucos dias antes do começo das filmagens, Franco Nero teria quebrado o braço nas gravações do clássico Keoma, obrigando Pasquale a repensar o roteiro e bolar às pressas uma solução para o caso. Por isso, em Auto Stop Rosso Sangue, você verá a esposa de Walter dirigir o carro na maior parte das cenas, e o jornalista bêbado terá a mão ferida numa queda, durante suas bebedeiras. 
Ah, e destaque para a trilha sonora, a cargo do mestre Ennio Morricone.

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