quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A Primeira Noite de Crime (The First Purge, 2018) | Dir: Gerard McMurray - Crítica


Por Mauricio Castro

The Purge é uma franquia que se define pelo "quase". A premissa, estabelecida no primeiro filme da série, na qual durante 12 horas o crime seria legalizado no Estados Unidos, gera uma gama de possibilidades e poderia (leia bem: poderia) render momentos épicos de violência e transgressão no cinema. Porém, nenhum dos longas até agora (e já chegamos ao quarto) vai muito além de passatempo e produções quase interessantes, quase marcantes e que quase não lembramos após assistirmos.

A Primeira Noite de Crime trata-se do prequel de toda essa história, ou seja, nesta sequência vemos a criação do experimento realizado pelos New founding Fathers of America. O local escolhido para o teste é uma ilha de comunidade majoritariamente negra e pobre. Os participantes do Purge receberão uma quantia razoável em dinheiro referente aos seus atos e interação no evento. Traduzindo: o governo americano irá pagar para os negros e pobres se matarem entre si, fazendo assim, um controle populacional. 

Sob a direção de Gerard McMurray, The First Purge aborda de modo explícito a questão racial nos Estados Unidos. Mais propício impossível, já que a terra do Tio Sam está sob o comando de um senhor mimado com zero empatia e completamente alheio aos problemas sociais. A violência nas comunidades, o descaso, e a manipulação de massa são os principais tópicos de debate em A Primeira Noite de Crime. Os vilões são caricaturas de burocratas, membros da Ku Klux Khan, Nazistas, Tiras e por aí vai. Os heróis (e anti-heróis) são sobreviventes do gueto, gente das ruas, delinquentes e invisíveis. 


Toda esse papo deve estar fazendo você pensar que The First Purge é um filmaço, não? Quase. Como dito lá em cima, o novo The Purge quase chega lá. É uma produção perdida em seu roteiro e abre tantas subtramas que fica impossível conclui-las, ou fazer o espectador ficar atento a elas. Tanto que alguns personagens são abandonados da história e voltam do nada. O ato final é bom, não tanto que justifique e salve o resto do longa. Mas tem seus momentos.

Apesar de produzido pelo "explosivo" Michael Bay, The First Purge não será lançado em cinemas no Brasil. 

sábado, 15 de setembro de 2018

Mandy (2018) | Dir: Panos Cosmatos - Crítica


Por Mauricio Castro

O Italiano George P. Cosmatos, falecido em 2005, realizou alguns dos mais memoráveis filmes de ação de todos os tempos, entre eles: Rambo 2, Cobra (por aqui conhecido como Stallone Cobra, clássico absoluto do SBT), A Travessia de Cassandra e o faroeste Tombstone.

Seu filho, Panos Cosmatos faz um cinema autoral e que, em parte, segue os passos do mestre. Porém, sua linguagem e abordagem são menos convencionais, bem menos, diga-se de passagem. A premissa de Mandy, a princípio simples, vai decepcionar muito os desavisados que procuram o escapismo de uma Cannon Group ou as explosões inconsequentes dos filmes do velho Cosmatos. Red, vivido pelo famigerado Nicolas Cage, tem sua namorada raptada e morta violentamente por uma gangue de hippies lunáticos, e parte em busca de vingança. À primeira vista mais um filme de ação e vingança, não? Algo Tarantinesco talvez. Ledo engado, se você espera algo do tipo vai quebrar a cara.


Apesar do plot nitidamente exploitation, Mandy usa recursos visuais muito ricos e super exagerados, lembrando os trabalhos mais psicodélicos de Gaspar Noé. E é claro que essa tendência de usar  cores em neon pode incomodar alguns e tornar a experiência (muito) cansativa. Sinceramente, a primeira hora de Mandy, devido a sua fotografia e seu roteiro lento, é um desafio e exige paciência. Ou você embarca na viagem alucinógena ou desiste.

Porém, a segunda hora e seu ato final reservam grandes momentos de violência, e faz toda a espera ser recompensada. Nicolas Cage, conhecido por seu overacting, suas caras e bocas, e papéis canastrões, fica super à vontade e deixa todo seu potencial de louco varrido transparecer na tela. 


Mandy é uma mistura louca dos apelativos Satan's Sadists e I Drink Your Blood com os delírios visuais de Enter the Void. Não é para todos os públicos, mas acredito que deve ser violento e divertido o suficiente para deixar o saudoso George P. Cosmatos orgulhoso.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

What Keeps You Alive (2018) | Dir: Collin Minihan - Crítica


Por Mauricio Castro

Em 2011, sob o pseudônimo de The Vicious Brothes, o canadense Collin Minihan e o americano Stuart Ortiz chamaram atenção dos festivais de cinema fantástico ao redor do mundo com seu modesto Grave Encounters (Fenômenos Paranormais, aqui no Brasil). Os renomados Sitges e Tribeca deram uma baita moral ao trabalho dos garotos. Os anos seguiram e a dupla continuou firme, estabelecendo sua marca no underground.

Eis que chegamos em 2018, e Collin Minihan, sabe-se lá porquê, decide alçar um vôo solo. Sem o projeto Vicious Brothers, Minihan prova que aguenta o tranco quando o assunto é direção e não faz feio. 

Whats Keeps You Alive tem uma premissa simples, até um tanto batida, mas fica nítido que o longa não tem a pretensão de reinventar a roda do horror.

Para celebrar o primeiro aniversário de casamento, a jovem Jackie leva sua esposa Jules até sua casa nas montanhas, um lugar cheio de valor afetivo, já que ela passou boa parte da infância no local, aprendendo a caçar com o pai. Ao chegar, o ambiente isolado e inóspito da natureza, permite que Jackie revele sua verdadeira personalidade e coloque em risco a vida de sua companheira. 

Além da direção acertiva de Minihan, destaca-se a atuação das duas atrizes principais: Hannah Emily Anderson e Brittany Allen (ambas presentes em Jigsaw, filme do ano passado). Você de fato acredita na fragilidade de Jules e na frieza (e psicopatia) de Jackie. 

Como nem tudo são flores, o longa tem seus deslizes e aposta muito nas conveniências de roteiro para criar situações de perigo. A fragilidade de Jules, em certos momentos irrita, e muito! Sabe os jovens burros que sempre fazem escolhas idiotas nos slashers? Então...

Porém, What Keeps You Alive surpreende e, ao menos pra mim, é uma boa surpresa do terror em 2018. 

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Fugitivo Sanguinário (Autostop Rosso Sangue/Hitch-Hike, 1977) | Dir: Pasquale Festa Campanile


Por Mauricio Castro

Fugitivo Sanguinário é uma verdadeira jóia obscura dos thrillers setentistas. Dirigido pelo prolífico Pasquale Festa Campanile, a produção reúne todos os elementos pessimistas e violentos em voga na década, porém, não figura entre os mais lembrados, como por exemplo, seus semelhantes americanos: Sob o Domínio do Medo, A Outra Face da Violência e Amargo Pesadelo. Se fosse realizado nas terras do tio Sam, ao invés da Itália, Fugitivo Sanguinário seria, com certeza, um dos grandes clássicos da Nova Hollywood. 


O Casal Walter e Eve, que estão em situação limítrofe de tesão e repulsa, viajam pela região montanhosa dos Estados Unidos e passam a maior parte do tempo trocando juras de ódio e transando loucamente. Ele (nosso amado Franco Nero!), um jornalista sem renome, bêbado e salafrário, ela (a belíssima Corinne Cléry), é uma mulher misteriosa, com um indecifrável olhar de Monalisa. Essa dupla irá cruzar o caminho de um ladrão em fuga (David Hess, de Aniversário Macabro) transformando a vida de ambos, que já é uma merda, no verdadeiro inferno na estrada.


Provavelmente a primeira coisa que vem a sua cabeça ao ler a sinopse é: A Morte Pede Carona. Ledo engado. Autostop Rosso Sague não é unilateral, nem previsível. É um filme de violência ambígua, cheio de subtextos e camadas, como: ambição, homossexualidade, ciúmes e posse. Se comparado, estaria ao lado de Rabid Dogs, de Mário Bava, outro exemplar italiano de absurda violência. 

Sua ambientação, nas lindas montanhas de Gran Sasso, na Itália, reforça o caráter labiríntico e solitário, da obra. Como em um jogo de gato e rato, os personagens se reencontram, como se sair daquele local fosse algo impensável. A relação vítima-algoz adquire em Fugitivo Sanguinário um tom de cumplicidade e simpatia, quase um complexo de Estocolmo. Entretanto, o pior dos males não é o fugitivo. Konitz, o psicopata vivido por David Hess, é apenas a representação mais simples da maldade que a estrada apresenta. 


Uma curiosidade: Poucos dias antes do começo das filmagens, Franco Nero teria quebrado o braço nas gravações do clássico Keoma, obrigando Pasquale a repensar o roteiro e bolar às pressas uma solução para o caso. Por isso, em Auto Stop Rosso Sangue, você verá a esposa de Walter dirigir o carro na maior parte das cenas, e o jornalista bêbado terá a mão ferida numa queda, durante suas bebedeiras. 
Ah, e destaque para a trilha sonora, a cargo do mestre Ennio Morricone.