segunda-feira, 18 de março de 2019

Clube dos Canibais (The Cannibal Club, 2018) | Dir: Guto Parente


Por Mauricio Castro

Após percorrer o circuito de festivais internacionais, angariar prêmios e elogios, o novo trabalho de Guto Parente pôde ser conferido na mostra A Vingança dos Filmes B, em Porto Alegre, no verão de 2019. 

Não se engane pelo título, este não é um exemplar (ou homenagem) ao subgênero italiano canibal. Muito menos um torture porn ao estilo Albergue. O Clube dos Canibais usa a metáfora da antropofagia para grifar o pior da elite brasileira.

Elite essa que se denomina conservadora nos costumes e liberal na economia, defensores da família tradicional e fervorosos nacionalistas, ou seja, aquele tipinho puxa-saco que vota em militar, sonha com pistolas automáticas, e acha que pobre tem mais é que trabalhar até morrer. 

Metáforas à parte, o "clube" do título é bem concreto, aparece em tela, e exibe a crueldade que o título prenuncia. Nele, temos homens burgueses que se deleitam ao contemplarem a desgraça alheia, leia-se: a desgraça de pobres coitados, que aos olhos destes, nem seres humanos são. E na trama central, temos um casal que além de se banquetear com a carne "mais barata do mercado" (como diria Elza Soares), ainda se divertem com fetiches sexuais, humilhação dos funcionários e jogos psicológicos. 

Falar mais sobre a premissa de O Clube dos Canibais poderia estragar sua experiência. 
O Clube dos Canibais pode ser considerado um "irmão espiritual" d'O Animal Cordial. Em ambos, a figura vilanesca tem a mesma fragilidade no ego, a mesma falta de empatia, o vício no poder e a necessidade de subjugar os fracos. Enfim, ótimo trabalho que exala ironia e só reforça que o que já dizia aquela velha canção dos mutantes: Dê um chute no patrão! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário